Como entender a tabela de atenuação e calcular a eficiência do protetor auditivo?

11 minutos para ler

Na indústria, há vários postos de trabalho nos quais a pressão sonora no ambiente encontra-se acima do nível considerado como tolerável para um ouvido humano (que é de cerca de 85 decibéis por oito horas de exposição). Entretanto, essa avaliação do som, levando em conta apenas o seu valor em decibéis, pode ser classificada, de certa forma, como equivocada, visto que há outros parâmetros para serem analisados na hora de providenciar o devido EPI (Equipamento de Proteção Individual), como é o caso da tabela de atenuação.

O que normalmente acontece em uma indústria é a distribuição deliberada de protetores auditivos para os colaboradores, somente com a avaliação de ruídos, sem qualquer estudo de caso mais detalhado. Isto é, são identificadas apenas qual é a fonte e qual é a pressão sonora no local de trabalho — avaliando se ela está superior a 85 decibéis — e, posteriormente, é comprado o abafador para o específico patamar, negligenciando completamente o que determina a tabela de atenuação desse EPI.

No entanto, você já sabe o que é a tabela de atenuação e como ela funciona? Então, continue a leitura e confira a seguir tudo sobre esse tema!

Avaliação do som

Além da pressão sonora em decibéis, o som tem outra característica importante e que também o ajuda a defini-lo, que é a sua frequência — seja em oitavas, seja em bandas de 1/3 de oitavas. O ouvido humano consegue captar sons emitidos apenas na faixa de 20 a 20.000 hertz (infrassom e ultrassom, respectivamente). Fora desse patamar, há apenas alguns animais (como os cães e os gatos) que são capazes de perceber a oscilação das ondas sonoras.

Ademais, cabe ressaltar que há sons que têm o mesmo valor em decibéis, no entanto, são emitidos pela mesma fonte, mas em frequências distintas, o que faz uma total diferença para quem almeja controlar e/ou reduzir esse risco. Nesse contexto, infelizmente, no Brasil, o setor de Segurança do Trabalho, em sua grande maioria, considera apenas a pressão sonora da fonte emissora. Isso é um erro, já que ignora a frequência de oscilação.

A pressão sonora, dada em decibéis (dB), não pode ser somada ou subtraída, pois estamos falando de uma escala logarítmica, o que significa que fazer isso não é tão simples como um cálculo do tipo “2 + 2 = 4”. Para facilitar a compreensão desse equívoco, entenda que haver uma fonte geradora de ruídos que emita sons em diversas frequências com uma pressão sonora de 80 dB não significa que todas as frequências são emitidas com a mesma intensidade de pressão sonora, ou seja, nós podemos ter 80 dB para 250 Hz e 65 dB para 3.000 Hz.

Segurança no Trabalho

É a Norma Regulamentadora 15 (NR 15) que determina o máximo de exposição diária para a específica pressão sonora e, de acordo com ela, 85 decibéis representam o máximo para que um colaborador fique exposto a um período de oito horas consecutivas com as devidas proteções. Sendo assim, para esse mesmo tempo de exposição, porém com 100 decibéis (de acordo com a disposição da norma), a empresa já é obrigada a buscar meios para o controle do risco e arcar com a insalubridade.

A forma mais comum de controlar ou reduzir o risco sonoro é com a utilização do Equipamento de Proteção Individual — nesse caso, o abafador de ruído —, sendo que, para a situação descrita acima, a grande parte das empresas se preocuparia apenas em comprar um EPI com 15 dB de atenuação. Assim sendo, de 100 dB, teríamos, hipoteticamente, 85 dB quando utilizado um abafador de ruídos de 15 dB.

Basicamente, toda a indústria segue esse perfil de análise (denominado como um método curto de avaliação de ruídos). Contudo, visando a garantir, de fato, a segurança do colaborador, é necessário adotar o procedimento mais criterioso de avaliação, que é chamado de método longo, em que verificamos a performance do protetor auditivo por bandas de frequências, segundo os resultados obtidos em testes e expressos na tabela de atenuação, e quais são as frequências que prevalecem no ambiente para sabermos realmente se o abafador é capaz de cumprir com o seu papel quanto à atenuação de ruídos para aquelas frequências.

Tabela de atenuação

Para entendermos o método correto de avaliação, então, é interessante compreender, inicialmente, o que é a tabela de atenuação e como ela funciona. Desse modo, em um cenário hipotético, um abafador de ruído que contenha, em seu certificado de aprovação (CA), uma atenuação de 22 dB, em um cenário ideal, reduziria a intensidade do som do ambiente em 22 decibéis. Porém, essa conclusão é bastante rasa e, muito provavelmente, estará errada quando realizada uma correta análise na prática.

Já no cenário real, a sua atenuação variará de acordo com o valor da frequência. Em outras palavras, há casos em que esse mesmo EPI especificado para a atenuação de 22 dB alcançará outros valores de redução (tanto para mais quanto para menos).

Dessa forma, a tabela de atenuação trabalha justamente em cima dessa equivalência, buscando demonstrar a verdadeira redução sonora segundo a frequência do som e conforme o valor de atenuação de referência (especificado no abafador de ruído). Para a tabela acima, podemos concluir que:

  1. o abafador tem NRRsf de 23 dB, que serve para realizar a avaliação pelo método curto e que não é eficaz;
  2. para uma frequência de 125 Hz, o abafador atenuou 12 dB;
  3. para uma frequência de 8.000 Hz, o abafador atenuou 36 dB.

Considerando os três itens, podemos afirmar que:

  1. o NRRsf não é um método eficaz para utilizarmos como a representação da atenuação de ruído do abafador;
  2. reforçando o que acabamos de dizer, se, em 125 Hz, o abafador atenuou 12 dB, não são críveis os resultados do NRRsf;
  3. da mesma maneira, para 8.000 Hz, o abafador tem uma atenuação 36 dB.

Por esses e outros motivos, os protetores auditivos devem ser considerados segundo a sua tabela de eficiência, correlacionando a atenuação por frequência com as medições do ruído do ambiente. Assim sendo, é possível comprovar que a atenuação de número único não deve ser o parâmetro exclusivo para a implantação de um protetor auditivo.

Aplicação da tabela de atenuação

O chamado método longo de avaliação nada mais é do que a aplicação da tabela de atenuação, o qual tem o intuito de considerar a frequência do som para definir, com verdadeira precisão, qual é a real taxa de redução do ruído.

Exemplo

Em um ambiente de trabalho, há uma fonte que emite ruídos de 120 dB e com uma frequência de 8.000 Hz. Pela NR 15, um colaborador que atua por oito horas nesse local teria apenas que utilizar um EPI que reduza o ruído em 35 dB.

No entanto, ao consultarmos a tabela de atenuação de um abafador de ruído de 22 dB, nós concluímos que, para a frequência de 8.000 Hz, a sua atenuação passa a ser de 38 dB, reduzindo, assim, a pressão sonora percebida pelo ouvido para 82 dB — isto é, um nível seguro. Já esse mesmo EPI de 22 dB, quando é utilizado para atenuar um som que oscila em uma frequência de 125 Hz, com a mesma pressão sonora, segundo a tabela, atenuará apenas em 12 dB, resultando em 98 dB.

Portanto, a eficiência do protetor auditivo não se mede apenas pelo número NRRsf (Noise Reduction Rate Subject Fit — taxa de atenuação de ruído em colocação subjetiva), mas, sim, pela análise da frequência do som também. Sabendo disso, é possível afirmar com propriedade que, infelizmente, há muitas situações na indústria em que o setor de Segurança do Trabalho imagina controlar o risco (no caso, o ruído), mas, na verdade, os usuários podem continuar expostos a ruídos insalubres e que são prejudiciais para a sua saúde.

Dessa maneira, como a frequência do som também é um parâmetro que tem impactos no momento de especificar o Equipamento de Proteção Individual (EPI), é fundamental, então, que a empresa sempre considere o estudo da tabela de atenuação. Caso contrário, há risco de os colaboradores perderem a audição gradativamente, ou, até mesmo, sofrerem consequências no coração e no pulmão.

Atenuação média e desvio padrão

O protetor auricular deve ter um CA (Certificado de Aprovação) emitido pelo MT (Ministério do Trabalho). Ele engloba a tabela de atenuação de ruído que é o que determina qual protetor escolher para o nível de ruído em questão. Podemos considerar que essa tabela apresenta a atenuação média e o desvio padrão por banda de frequência.

Baseando-se no NRRsf, é possível estabelecer um padrão de desvio universal, que atenuaria todas as bandas de frequência juntas. O ruído padrão levado em conta para considerar esse desvio é chamado de ruído rosa. Há uma diferença de frequência ainda entre os ruídos graves e os ruídos agudos. Percebe como a interpretação do nível de atenuação não é algo tão simples?

Vale, ainda, lembrar que a norma ANSI S12.6 (Methods for Measuring the Real-ear Attenuation of Hearing Protectors ou método para a medição da atenuação de ruído pela metodologia do ouvido real, em tradução livre) está vigente no Brasil desde os anos 2000. A primeira versão dela foi criada em 1997 e, quando houve a sua atualização, caíram as frequências de 3.150 Hz e 6.300 Hz, que não são mais avaliadas. Isso porque elas se assemelhariam, respectivamente, aos 4.000 Hz e aos 8.000 Hz. Dessa forma, o trabalhador continua efetivamente protegido.

Panorama momentâneo

Uma pergunta muito comum diz respeito à padronização da proteção auricular, que se aplicaria a todos os trabalhadores. Embora a resposta seja que os protetores, quando são escolhidos corretamente no que diz respeito à atenuação, são eficientes para todo usuário, é importante fazer o teste de encaixe. Esse último não é uma premissa regulamentada e obrigatória por lei, mas auxilia na garantia do uso correto do dispositivo.

Os sistemas de validação dupla™ E-A-Rfit™ da 3M™ são os chamados Sistemas de Estimativa de Atenuação de Campo. Tais índices ajudam a chegar ao Nível de Atenuação Pessoal, que seria um número que considera as pequenas variações no nível de proteção que ocorrem de pessoa para pessoa. Essa informação pode ser considerada um panorama momentâneo, já que pode variar de acordo com o encaixe do protetor.

É por isso que é tão importante realizar o teste de encaixe, uma vez que ele ajuda a determinar se o trabalhador vem fazendo o uso correto do seu dispositivo. Embora trate-se de uma variável que oscila no dia a dia, o montante precisa ser conhecido. Além disso, o formato da cabeça e do canal auditivo do usuário deve ser um dos fatores considerados na hora de escolher o protetor.

Os testes de encaixe ajudam você a identificar possíveis trabalhadores que não estejam recebendo a proteção adequada, embora utilizem corretamente o protetor indicado pela tabela de atenuação. Trata-se de uma avaliação individual, que aumenta o nível de segurança do sistema. Ela também serve como um fator motivacional, já que ajuda a conscientizar as pessoas quanto à necessidade do uso dos dispositivos e fornece uma orientação para que o façam corretamente.

Como se pôde ver, a tabela de atenuação serve como um guia básico na hora de adquirir o protetor auricular adequado ao nível de ruído no ambiente de trabalho. Ainda assim, há outros testes e mais fatores a serem considerados para que não se negligenciem as características individuais dos colaboradores, garantindo, assim, a proteção a todos igualmente, visto que o fator humano está longe de ser uma ciência exata. Eis um dos princípios da Segurança no Trabalho.

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6 thoughts on “Como entender a tabela de atenuação e calcular a eficiência do protetor auditivo?

  1. Trabalho em um aterro sanitário um ambiente com muita concentração de poeira , usamos as mascara pff2, gostaria de saber se está correto.

    1. Boa tarde, Erlande.

      Tudo bem?

      Se a poeira para a qual deseja proteção estiver dentro dos limites tolerância seguro, o respirador PFF2 pode ser aplicado.

      Como mencionastes que é um aterro sanitário, pode ter a ocorrência de outros contaminantes, tais quais: vapores orgânicos, gases etc. Assim sendo, para estes casos os respiradores não oferecem proteção.

      Para realmente estar certo do quão efetivo é o respirador que está sendo utilizado, é necessário a implantação do Programa de Proteção Respiratória (PPR) da Fundacentro.

      Caso necessite de mais alguma informação, estamos à disposição pelo e-mail: comunicacao@deltaplusbrasil.com.br .

      Obrigado!

  2. Estou a procura de um abafador de ruído para usar enquanto estudo. A finalidade é reduzir basicamente barulho de conversa alta e trânsito. Poderia me indicar o melhor para esta finalidade?

    1. Olá, Thiago. Tudo bem?

      Tudo vai depender do quanto de pressão sonora em dB você deseja atenuar. A voz humana pode variar de 50hz até 3000hz (média), assim sendo você precisa de um abafador de ruídos que tenha boa performance de atenuação para essas bandas de frequência.

      O ruído gerado pelo trânsito é um pouco mais complexo pelo fato de ser “carregado” de diversas frequências, desde as mais baixas geradas pela vibração de um caminhão que passa sobre o asfalto (100 – 125Hz), escapamentos de motocicletas (3000Hz à 6000Hz), sirenes de veículos de segurança pública (3000Hz à 8000Hz) entre outros. Para o caso do trânsito a melhor maneira é bloquear o ruído aéreo por meio de janelas com absorvedores e cortinas que, por sua vez já ajudam mas não eliminam, e isso significa que as janelas não poderão estar abertas. Ruídos de baixa frequência (abaixo de 500Hz) normalmente se propagam pela estrutura, assim sendo é muito complexo atenuá-los na sua situação.

      Por todo o exposto o abafador de ruídos mais adequado para você, é:
      SEPANG-SEPA2OR

      O motivo de escolher esse abafador é o fato dele ser leve e de fácil adaptabilidade além do excepcional conforto. Sobretudo em relação à proteção oferece ótima atenuação nas faixas entre 500Hz e 4000Hz chegando a atenuar 34dB para 1000Hz e 2000Hz. Por tudo isso, esse será o produto mais indicado em termos de custo e benefício pelos diferenciais citados anteriormente.

      Como opção o abafador:
      INTERLAGOS

      Essa opção possui melhor desempenho para frequências mais altas, por isso por mais que este produto também te atenda, em relação custo x benefício, o abafador SEPANG é o mais indicado.

      Conheça a nossa linha de produtos: http://www.deltaplusbrasil.com.br.

      Estamos à disposição.

      Wellington Naves
      Coordenador de Produtos

  3. Boa noite!
    Moro em um lugar EXTREMAMENTE BARULHENTO. É uma favela nojenta e não tem como chamar a polícia. Em decibéis deve ser o mais alto possível, já que os paredões de som ficam nas ruas. Pior ainda com os graves. O que posso fazer pra amenizar isso enquanto eu tiver que ficar aqui? Associando abafadores externos e internos a proteção aumenta? Quais seriam os melhores abafadores no meu caso? Obrigada

    1. Olá, Letícia. Tudo bem?

      Entendemos a vossa insatisfação, uma vez que o conforto acústico traz diversos benefícios à saúde e os efeitos causados por ruído demasiado impactam diretamente na concentração e performance do dia a dia.

      Imaginando a qualidade e harmonia comumente empregados na maioria do estilos musicais populares, além do elevado nível de pressão sonora deciBel (dB) há uma grande faixa de frequência carregada por estas músicas e para cada tipo de frequência há uma forma diferente de atenuação; em geral podemos dividir o som em algumas frequências básicas: Baixa, média e alta frequência. Para os ruídos de baixa frequência, que se propagam em sua grande maioria pela estrutura do meio, não há muito o que fazer, pois eles chegam até você por meio da estrutura da casa e para atenuá-los de maneira mais efetiva, você precisaria tratar a estrutura e paredes da residência com material absorvedor, mas isso eleva demais o custo. Para os ruídos de média e alta frequência, que normalmente são transmitidos pelas paredes e/ou são aéreos, há alguns meios para atenuá-los (não significa eliminá-los) que vai desde o tratamento com material acústico nas paredes, janelas com “folha dupla” com absorvedores nas vedações, etc.

      Para auxiliar, mesmo que de maneira empírica, utilizar materiais absorventes tais como: carpete, tapete, espuma, cortinas e etc ajudam bastante. Uma janela de madeira externa (compensado naval, MDF), com moldura de borracha, fechando sobre a tua atual janela também auxiliaria. Para isolamento efetivo do som há uma regra simples: Densidade ou diferença de densidade. Quanto mais denso o material, mais isolante ele será, por exemplo o chumbo, no entanto é possível isolar o SOM/Ruído por densidade e/ou por diferença de densidade, que significa usar materiais com densidades diferentes para dificultar a passagem das ondas do ruído, por exemplo: alvenaria + material absorvente (lã de vidro, etc) + Drywall. Essa regra é facilmente entendível, mas não é tão simples colocá-la em prática. De nada vai adiantar fazer algo desse tipo com as paredes se as janelas não forem adequadas para tratamento acústico, ou se há ruído de impacto sobre os andares acima do vosso; além disso, todo tratamento acústico gera custos consideráveis.

      O abafador de ruído irá te auxiliar, mas não irá resolver o vosso problema. Aconselho até a utilização de dupla proteção, uso em conjunto, de dois tipos de protetores, sendo um intra auricular (plugue do ouvido CONIC) e outro circum auricular (abafador INTERLAGOS). Informo que poderá sentir certo desconforto com a utilização de ambos os produtos, pois irá reduzir bastante o ruído externo, inclusive poderá diminuir a percepção teus dos próprios ruídos, isto é, aquele que você faz ao caminhar, ao colocar um objeto sobre uma mesa, etc. Essa redução de ruído, em alguns casos, diminui a percepção de alarmes de despertadores, reduz a noção de espaço ao se locomover no escuro e principalmente no equilíbrio. Os dois produtos indicados são aqueles que irão melhor atender no que se refere a atenuação para médias e altas frequências; infelizmente para as baixas frequências, no vosso caso, é praticamente impossível de atenuar com protetores auditivos, pois ela é propagada pela estrutura da residência e quando não entram em contato direto com o corpo do usuário, vibram as paredes e reverberam na parte interna do cômodo.

      Agradecemos pelo vosso contato e colocamo-nos à disposição para mais esclarecimentos. Atenciosamente.

      Wellington Naves
      Coordenador de Produtos

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